Texto do doutor Mohamad Barakat
Tomar ou não tomar leite, eis a questão!
Todos perguntam por que eu não indico aos meus pacientes que
tomem leite, hoje explicarei mais sobre o tema, é importante analisarmos
os nutrientes que constituem o leite materno e o leite de vaca para
entendermos alguns paradoxos que existem em relação ao leite de vaca.
Em todos os mamíferos os nutrientes, em especial as proteínas do
leite produzido, são para estimular o melhor crescimento e
desenvolvimento orgânico e funcional.
O leite materno é o alimento mais perfeito que existe no mundo, sua
composição é específica e sutilmente modificada de acordo com a
necessidade e individualidade de cada lactente. Ele é composto por 87%
de água, sendo que os 13% restantes são uma poderosa combinação de
elementos, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da criança.
O leite de vaca também contém fatores imunológicos de ótima
qualidade, mas para o bezerro, esses fatores só funcionam para a mesma
espécie. Mesmo que alguns destes fatores possam funcionar, serão
destruídos pela armazenagem e fervura do leite.
É importante analisarmos os nutrientes que constituem o leite materno
e o leite de vaca para entendermos alguns paradoxos que existem em
relação ao leite de vaca.
O leite materno é rico em ácidos graxos de cadeia longa, importante
para o desenvolvimento e mielinização do cérebro. Ácido araquidônico e
linoléico, fundamentais na síntese de prostaglandinas, existem em
maiores concentrações no leite humano do que no leite de vaca. O
principal açúcar do leite materno é a lactose, porém, mais de 30
açúcares já foram identificados no leite humano como a galactose,
frutose e oligossacarídeos, com ação bifidogênica comprovadamente muito
maior do que os do leite de vaca. O que mais diferencia o leite de vaca
do humano, e por isso mesmo o ser humano pode ter mais transtornos, é a
composição de proteínas e o desequilíbrio entre os minerais.
As proteínas do leite humano são estruturais e qualitativamente
diferentes das do leite de vaca. No leite humano, 80% do conteúdo
proteico é de lactoalbumina, já no leite de vaca esta mesma proporção é
de caseína. A relação proteína do soro/caseína do leite humano é de
80/20, a do leite bovino é 20/80.
A baixa concentração de caseína no leite humano resulta em uma
formação de coalho gástrico mais leve, com flóculos de mais fácil
digestão e com reduzido tempo de esvaziamento gástrico. Além disso, o
leite bovino contém a betalactoglobulina, uma proteína que não existe em
leite humano e é comprovadamente a mais alergênica do leite de vaca
para o ser humano, principalmente por não termos enzimas que digerem
esta proteína. Diversos estudos já demonstraram existir mais de 25
frações proteicas alergênicas em leite de vaca.
O leite humano também contém maiores quantidades de aminoácidos
essenciais de alto valor biológico, como a cistina, e a taurina que não
tem em leite de vaca, que são fundamentais para o crescimento e
desenvolvimento do sistema nervoso central. Isto é particularmente
fundamental para os prematuros que não possuem enzimas necessárias para a
formação da taurina.
O leite de vaca ainda possui três vezes mais proteína que o leite
humano, sendo chamado por alguns estudiosos de “carne líquida”, porém
acidificando o pH sanguíneo e sobrecarregando o rim, quando consumido em
alta quantidade e, ao contrário do que se imagina, aumentando a
excreção urinária de cálcio.
Outro fator de desequilíbrio no leite bovino é a quantidade de cálcio
que é três vezes maior que no leite materno, porém com desequilíbrio
entre os minerais necessários para uma real utilização do cálcio,
prejudicando sua biodisponibilidade. Isto não acontece no leite humano
cuja quantidade e proporção de cálcio e dos demais minerais como
magnésio, boro, manganês, facilitam a sinergia dos mesmos gerando uma
utilização adequada e evitando microcalcificações. A maior parte dos
alimentos vegetais, que são boas fontes de cálcio têm uma proporção
parecida com a do leite humano e uma sinergia com os demais nutrientes
necessários para sua biodisponibilidade.
A maior porcentagem das alergias alimentares são tardias e mediadas
por IgG, principalmente, podendo desencadear sintomas de duas horas a
três dias após o contato com os alérgenos, sendo portanto de difícil
diagnóstico. Entre os alimentos mais alergênicos, o leite de vaca é o
mais frequente. Essa relação até já é feita pela maior parte dos
profissionais da área da saúde atentos às causas das doenças, porém
costuma-se ligar mais a intolerância à lactose.
Sem dúvida esta intolerância é comum e pode desencadear transtornos
funcionais gastrintestinais locais e por consequência, transtornos
também sistêmicos. Porém, não é a maior causa de doenças sistêmicas
desencadeadas pelo leite de vaca. A maior relação dos derivados de leite
com as alergias tardias se deve ao fato do organismo não digerir a
beta-lactoglobulina. A caseína (80%), alfa-lactoalbumina e
lactoglobulina são de dificuldade digestiva, principalmente a caseína.
As proteínas alergênicas dos lácteos provocam uma inflamação na
mucosa intestinal causando alteração na permeabilidade da mesma,
facilitando a passagem de macromoléculas e metais tóxicos, além de
favorecer a má absorção de nutrientes, gerando uma síndrome de má
absorção. Como a mucosa intestinal é produtora de substâncias como
serotonina, hormônios, enzimas digestivas, sua alteração prejudicará as
funções executadas por essas substâncias que seriam produzidas e
liberadas para a circulação para uma ação no organismo.
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