terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Leite e seus malefícios

Texto do doutor Mohamad Barakat



Tomar ou não tomar leite, eis a questão!
 Todos perguntam por que eu não indico aos meus pacientes que tomem leite, hoje explicarei mais sobre o tema, é importante analisarmos os nutrientes que constituem o leite materno e o leite de vaca para entendermos alguns paradoxos que existem em relação ao leite de vaca.
Em todos os mamíferos os nutrientes, em especial as proteínas do leite produzido, são para estimular o melhor crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional.
O leite materno é o alimento mais perfeito que existe no mundo, sua composição é específica e sutilmente modificada de acordo com a necessidade e individualidade de cada lactente. Ele é composto por 87% de água, sendo que os 13% restantes são uma poderosa combinação de elementos, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da criança.
O leite de vaca também contém fatores imunológicos de ótima qualidade, mas para o bezerro, esses fatores só funcionam para a mesma espécie. Mesmo que alguns destes fatores possam funcionar, serão destruídos pela armazenagem e fervura do leite.
É importante analisarmos os nutrientes que constituem o leite materno e o leite de vaca para entendermos alguns paradoxos que existem em relação ao leite de vaca.
O leite materno é rico em ácidos graxos de cadeia longa, importante para o desenvolvimento e mielinização do cérebro. Ácido araquidônico e linoléico, fundamentais na síntese de prostaglandinas, existem em maiores concentrações no leite humano do que no leite de vaca. O principal açúcar do leite materno é a lactose, porém, mais de 30 açúcares já foram identificados no leite humano como a galactose, frutose e oligossacarídeos, com ação bifidogênica comprovadamente muito maior do que os do leite de vaca. O que mais diferencia o leite de vaca do humano, e por isso mesmo o ser humano pode ter mais transtornos, é a composição de proteínas e o desequilíbrio entre os minerais.

As proteínas do leite humano são estruturais e qualitativamente diferentes das do leite de vaca. No leite humano, 80% do conteúdo proteico é de lactoalbumina, já no leite de vaca esta mesma proporção é de caseína. A relação proteína do soro/caseína do leite humano é de 80/20, a do leite bovino é 20/80.
A baixa concentração de caseína no leite humano resulta em uma formação de coalho gástrico mais leve, com flóculos de mais fácil digestão e com reduzido tempo de esvaziamento gástrico. Além disso, o leite bovino contém a betalactoglobulina, uma proteína que não existe em leite humano e é comprovadamente a mais alergênica do leite de vaca para o ser humano, principalmente por não termos enzimas que digerem esta proteína. Diversos estudos já demonstraram existir mais de 25 frações proteicas alergênicas em leite de vaca.
O leite humano também contém maiores quantidades de aminoácidos essenciais de alto valor biológico, como a cistina, e a taurina que não tem em leite de vaca, que são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do sistema nervoso central. Isto é particularmente fundamental para os prematuros que não possuem enzimas necessárias para a formação da taurina.
O leite de vaca ainda possui três vezes mais proteína que o leite humano, sendo chamado por alguns estudiosos de “carne líquida”, porém acidificando o pH sanguíneo e sobrecarregando o rim, quando consumido em alta quantidade e, ao contrário do que se imagina, aumentando a excreção urinária de cálcio.
Outro fator de desequilíbrio no leite bovino é a quantidade de cálcio que é três vezes maior que no leite materno, porém com desequilíbrio entre os minerais necessários para uma real utilização do cálcio, prejudicando sua biodisponibilidade. Isto não acontece no leite humano cuja quantidade e proporção de cálcio e dos demais minerais como magnésio, boro, manganês, facilitam a sinergia dos mesmos gerando uma utilização adequada e evitando microcalcificações. A maior parte dos alimentos vegetais, que são boas  fontes de cálcio têm uma proporção parecida com a do leite humano e uma sinergia com os demais nutrientes necessários para sua biodisponibilidade.
A maior porcentagem das alergias alimentares são tardias e mediadas por IgG, principalmente, podendo desencadear sintomas de duas horas a três dias após o contato com os alérgenos, sendo portanto de difícil diagnóstico. Entre os alimentos mais alergênicos, o leite de vaca é o mais frequente. Essa relação até já é feita pela maior parte dos profissionais da área da saúde atentos às causas das doenças, porém costuma-se ligar mais a intolerância à lactose.
Sem dúvida esta intolerância é comum e pode desencadear transtornos funcionais gastrintestinais locais e por consequência, transtornos também sistêmicos. Porém, não é a maior causa de doenças sistêmicas desencadeadas pelo leite de vaca. A maior relação dos derivados de leite com as alergias tardias se deve ao fato do organismo não digerir a beta-lactoglobulina. A caseína (80%), alfa-lactoalbumina e lactoglobulina são de dificuldade digestiva, principalmente a caseína.
As proteínas alergênicas dos lácteos provocam uma inflamação na mucosa intestinal causando alteração na permeabilidade da mesma, facilitando a passagem de macromoléculas e metais tóxicos, além de favorecer a má absorção de nutrientes, gerando uma síndrome de má absorção. Como a mucosa intestinal é produtora de substâncias como serotonina, hormônios, enzimas digestivas, sua alteração prejudicará as funções executadas por essas substâncias que seriam produzidas e liberadas para a circulação para uma ação no organismo.

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